Possuía um bom gosto, uma
intuição e uma enorme sensibilidade que influíram nas suas escolhas, optando
por letras que, através dos seus temas, do ritmo e da oralidade melhor se
adaptaram à sua voz e ao fado (música tradicional de Lisboa). Amália cantou o que sentia numa coerência total entre a
vida e a obra e fê-lo de uma forma natural e despretensiosa, como só o
conseguem os grandes intérpretes.
Dos seus encontros, com grandes
poetas da Literatura Portuguesa, nasceu um movimento de rutura no Fado,
tornando-o o grande divulgador do lirismo português.
Assim, a sua voz foi o veículo de difusão e popularização da nossa cultura literária, em Portugal e no mundo. Amália contribuiu, em muito, para que o Fado fosse declarado pela UNESCO a PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE a 27 de novembro de 2011.
O FADO foi a primeira expressão artística a
atingir tal estatuto em Portugal.
Amália continua a ser uma grande inspiração para todos os cantores de Fado.
A RAINHA E A DIVA DO FADO
PERMANECERÁ SEMPRE VIVA ENQUANTO O FADO VIVER!
MARIA LISBOA
É varina, usa chinela,
tem movimento de gata.
Na canastra, a caravela;
no coração, a fragata.
Em vez de corvos, no xaile
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.
É de conchas o vestido;
tem algas na cabeleira;
e nas veias o latido
do motor duma traineira.
Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio, Maria.
Seu apelido Lisboa.
David Mourão Ferreira
A cantora Carminho escreveu em sextilhas um livro biográfico para crianças sobre a fadista Amália Rodrigues “Amália, já sei quem és”. É lançado este mês, momento em que se celebra o centenário da diva do fado. “Inspirada no universo fadista que me rodeia desde que nasci, propus-me contar a história em sextilhas, uma das formas poéticas usadas no fado tradicional”, explica Carminho no final do livro, a editar no dia 23.
A Dom Quixote publicou no dia 30 de junho, véspera do centenário de nascimento da fadista, “Amália – Ditadura e Revolução (a História Secreta)”, uma investigação do jornalista Miguel Carvalho.
A obra inclui fotos e testemunhos inéditos de Amália Rodrigues e de personalidades que com ela conviveram. Miguel Carvalho teve acesso a milhares de páginas de documentos nunca antes revelados, além de cartas e fotos desconhecidas da cantora. Como a da capa, uma fotografia tirada pelo fotojornalista Luís Vasconcelos (ex-Público e Visão) numa manifestação promovida pelo Partido Socialista, em junho de 1975.
Amália Rodrigues canta o fado "Não sei porque te foste embora", extraído do filme "Capas Negras".
LÁGRIMA
Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto
Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo.
Se considero que um dia hei de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer.
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar.
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